Universidade do Porto cria observatório para “promover o acesso democrático à cultura”
O Instituto de Sociologia da Universidade do Porto e a Reitoria lançaram o Observatório de Arte e Cultura nas Universidades. Fátima Vieira, vice-reitora para a Cultura e Museus da UP, falou com o JPN sobre as motivações para a criação deste projeto.
Casa Comum da Universidade do Porto recebe cerca de 280 eventos por ano. Foto: Universidade do Porto/ D.R.
O Instituto de Sociologia da Universidade do Porto e a Reitoria lançaram, em setembro, o Observatório de Arte e Cultura nas Universidades. O projeto é feito em parceria com o Plano Nacional das Artes e o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.
Fátima Vieira, vice-reitora para a Cultura e Museus da Universidade do Porto (UP), considera que, apesar de já existir a coordenação e direção de uma programação cultural na UP, isso é “muito diferente de ter uma estratégia para a cultura”, e que este projeto tem o objetivo de “fazer um plano estratégico para a cultura da universidade” que promova “o acesso democrático à cultura”. Para já, na Universidade do Porto, mas com a ambição de se expandir a outras instituições de ensino superior.
A criação deste observatório vai permitir ter “uma visão mais panorâmica daquilo que acontece na universidade, identificar aquilo que é preciso melhorar e, por outro lado, perceber aquilo que os estudantes realmente querem”, explica Fátima Vieira. Nesta fase inicial do projeto, “a primeira coisa que temos de fazer é perceber aquilo que temos”, afirma a vice-reitora. Isso passa por “identificar todos os agentes culturais”, desde integrantes de grupos de artistas a responsáveis por áreas como cenografia ou figurinos, assim como o “mapeamento dos espaços” disponíveis, e também o “mapeamento das iniciativas” a decorrer.
“Se queremos afirmar a cultura como central na vida da universidade ou afirmar a universidade como um lugar de cultura, precisamos de alguém que faça essa observação, que verifique aquilo que está a ser feito, que identifique as medidas que têm que ser tomadas para que haja um verdadeiro programa, uma verdadeira estratégia para a cultura”, salienta Fátima Vieira.
O encontro inaugural do projeto aconteceu nos dias 10 e 11 de setembro, na Casa Comum, e reuniu responsáveis e agentes das diferentes unidades orgânicas da UP, que estiveram à conversa sobre o panorama cultural da instituição no presente. Fátima Vieira defende que este “tem de ser um programa colaborativo”, que é pensado e construído “com a participação de todos”. “É muito importante que a comunidade académica perceba que nós queremos mesmo ouvir, e que tem um papel muito importante a cumprir para realmente fazermos a universidade um lugar de cultura”, sublinha a vice-reitora.
O Observatório terá a missão de diagnosticar aspetos a melhorar e Fátima Vieira tem em mente alguns que são já evidentes aos agentes envolvidos na iniciativa, nomeadamente na forma de comunicação: “Na Reitoria, organizamos 280 eventos por ano, todos gratuitos, e ficamos sempre muito desapontados quando encontramos alguém da comunidade académica que nem sequer ouviu falar do projeto da Casa Comum, o que nos deixa muito tristes, porque nós mandamos [comunicações] para 50 mil pessoas todas as semanas”, confessa Fátima Vieira.
Outra das fragilidades assumidas tem a ver com a partilha de espaços, que carece de ser melhorada: “Se eu quero ter agora uma nova iniciativa, por exemplo, o que é que eu posso fazer? Onde é que eu posso encontrar espaços para encontros ou para ensaios? Esse é um aspeto que nós temos também que trabalhar, para que sejam encontrados espaços que devem ser partilhados por mais grupos. O mesmo espaço que já é utilizado por um grupo de extensão cultural pode perfeitamente ser partilhado por mais quatro ou cinco. É assim que se faz no estrangeiro e que se tem conseguido muitíssimo bons resultados”, frisa a vice-reitora.
Quanto a iniciativas a decorrer num futuro próximo, Fátima Vieira anuncia que a UP vai ter Josefina Fuentes como artista residente “ao longo do todo ano”, com um projeto que será revelado em breve, e no qual espera que “a comunidade académica contribua e participe efetivamente”, uma vez que o sucesso do projeto da artista chilena “vai depender também da participação” das pessoas.