Pode o streaming ser uma ameaça para o cinema de sala?
Estudo desenvolvido pela Marktest revela que 52% dos portugueses usam serviços de streaming. Nuno Aguiar, diretor dos Cinemas NOS, declara ao JPN que não considera o crescimento deste serviço uma ameaça para as salas de cinema.
O número de portugueses que usam plataformas de streaming atingiu um novo máximo. O estudo realizado pela Marktest refere que 52% dos portugueses utilizam este tipo de serviço. Daqui se segue a questão: será que o streaming é uma ameaça para as salas de cinema?
Este crescimento não parece preocupar Nuno Aguiar, diretor dos Cinemas NOS, que considera que “o streaming não é uma ameaça, mas sim outra forma de visualização de filmes, e uma experiência de consumo de entretenimento completamente distinta de uma ida ao cinema”, que é “algo que não é replicável em nossa casa”. “[A sala de cinema] é um espaço totalmente concebido para maximizar o impacto do filme, desde o som, imagem e conforto”, explica ao JPN.
Cinema vs. Streaming
O cinema de sala é optado pela sua “grandiosidade”, como confirma um estudo de 2020 realizado por um estudante de Mestrado em Multimédia da Universidade do Porto sobre o público de cinema no Porto. Por outro lado, o estudo mostra que o streaming é escolhido pela sua “amplitude de catálogo e acessibilidade”, sendo de uso “mais quotidiano e recorrente”.
Os dados analisados evidenciam que, nos municípios centrais da Área Metropolitana do Porto, a visualização de filmes em sala de cinema está entre “menos de uma vez por mês” e “uma vez por mês”, enquanto que a visualização de filmes em streaming está entre “duas vezes por mês” e “mais de uma vez por semana”. Conclui também que, no que diz respeito aos cinemas de sala, quem escolhe os mais comerciais prioriza a quantidade de filmes disponíveis, e que quem escolhe salas mais pequenas prioriza a qualidade do cartaz. Para este estudo foi analisada uma amostra de 287 inquiridos, com predominância da população jovem.
O impacto da pandemia
A maior quebra nos números relativos às salas de cinema fez-se sentir no período 2020/2021, devido ao confinamento e consequente fecho das salas. O Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA) aponta para uma descida de cerca de 74% face a 2019, que o diretor dos Cinemas NOS considera ter sido “o melhor ano de sempre da exibição cinematográfica em Portugal”, no que toca à receita total dos bilhetes de cinema.
Nuno Aguiar revela ao JPN que os números têm vindo a recuperar, embora de forma lenta, não só por causa do impacto da pandemia mas também devido à greve dos atores e argumentistas em Hollywood, que atrasou a data de lançamento de alguns grandes blockbusters e que “só agora é que o número de lançamentos de grandes filmes está ao mesmo nível do período pré-Covid”.
No que toca ao streaming, um relatório publicado em 2022 pela Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) indica que 34% dos utilizadores de Internet em Portugal recorreu ao streaming em 2020, uma diferença de 20 pontos percentuais face a 2018. Portugal foi o quarto país da União Europeia com maior crescimento neste período.
Os dados disponíveis nos relatórios do ICA mostram que o número de espectadores em salas de cinema em Portugal sofreu um decréscimo na primeira metade da década de 2010, ainda antes da Netflix chegar a Portugal. Na segunda metade dessa década, quando os serviços de streaming chegaram e a sua popularidade foi crescendo, houve um pequeno ressurgimento das idas ao cinema, semelhante aos números do início do século.
Este crescimento foi interrompido pela pandemia, tanto em salas multiplex como em cinemas de rua e cineclubes, o que não aconteceu com as plataformas de streaming, cujo processo de adesão acelerou no confinamento. No entanto, os cinemas de sala estão a recuperar os seus números. Ao que tudo indica, o streaming e o cinema não são rivais, mas sim formatos diferentes para experiências diferentes, que acabam por se complementar.