Faleceu Pinto Balsemão, um “grande defensor da liberdade para pensar"

Foi primeiro-ministro entre 1981 e 1983, um dos fundadores do PSD e criador do primeiro grupo de média privado em Portugal, o grupo Impresa. Faleceu esta terça-feira à noite, com 88 anos. O JPN falou com a subdiretora de Áudio e Multimédia do "Expresso" sobre este apaixonado pelo jornalismo, sempre atento às novidades no mundo dos média.

Francisco Pinto Balsemão nasceu em Lisboa, em 1937. Faleceu na terça-feira, aos 88 anos. Foto: Cruks/Wikimedia Commons

Francisco Pinto Balsemão faleceu esta terça-feira (21), aos 88 anos. A morte foi publicamente comunicada pelo grupo Impresa, que o próprio fundou, informando que o empresário morreu de causas naturais e acompanhado pela família.

O orgulhoso detentor do “número 18” da Carteira Profissional de Jornalista – como confessou no último episódio do podcast “Deixar o Mundo Melhor”, do “Expresso”, em 2023 -, foi o fundador do semanário “Expresso”, em 1973, e do canal de televisão SIC, em 1992. Na área da política, foi também um dos fundadores do PSD e primeiro-ministro de Portugal.

Nasceu em 1937, em Lisboa, e cresceu numa família da alta burguesia vinda da região da Guarda, com ligações à imprensa.

Estudou no Liceu Pedro Nunes e licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Foi ao cumprir o serviço militar na Força Aérea Portuguesa que deu os primeiros passos no jornalismo, tendo assumido a chefia da revista da instituição. Mais tarde, em 1963, integrou o Conselho de Admnistração do jornal “Diário Popular”. Foi quando saiu deste órgão que decidiu lançar o seu próprio projeto jornalístico, e assim criou o semanário “Expresso”, em 1973, inspirado noutros semanários europeus. Foi diretor deste jornal até 1979, tendo sido sucedido pelo atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, neste cargo.

O “Expresso” foi o ponto de partida para a criação do grupo Impresa, do qual também faz parte a SIC, a primeira estação de televisão privada em Portugal, que estreou em 1992.

Um político que Portugal “nunca esquecerá”

Figura célebre na política, Pinto Balsemão foi também o primeiro militante do PPD (atual PSD), e fundador do partido juntamente com Francisco Sá Carneiro e Joaquim Magalhães Mota. Exerceu o cargo de primeiro-ministro do governo português entre janeiro de 1981 e junho de 1983.

Marcelo Rebelo de Sousa evocou Francisco Pinto Balsemão como “uma das personalidades mais marcantes dos últimos sessenta anos”, recordando o seu papel “na política, na sociedade, na afirmação da liberdade de expressão e de imprensa.” O Presidente da República conclui a nota afirmando que Portugal “não o esquece” e “nunca o esquecerá”.

Sempre atento às novidades dos media

Joana Beleza, antiga aluna do curso de Ciências da Comunicação (de que o JPN faz parte) e atual subdiretora de Áudio e Multimédia do Grupo Impresa, trabalhou de forma próxima com Francisco Pinto Balsemão, que recorda como um homem apaixonado pelo jornalismo e “grande defensor da liberdade para pensar, para fazer, para discutir e para questionar”.

“Ele era muito curioso sobre as pessoas. Falava sempre um bocadinho com a pessoa que estava na recepção, com as pessoas que encontrava, que se cruzavam com ele. Sabia sempre o nome da pessoa, o que é que ela fazia… Conhecia centenas de trabalhadores do Expresso e da SIC, e gostava mesmo de saber como é que estava a vida das pessoas”, sublinha Joana Beleza ao JPN.

Quando entrou no Expresso, em 2014, a jornalista foi recebida por Francisco Pinto Balsemão, que tinha o costume de receber pessoalmente todos os novos colaboradores do jornal. Anos mais tarde, em 2021, quando foi promovida para a área de direção de podcasts, Joana Beleza teve a oportunidade de reunir com Pinto Balsemão, para que este conhecesse melhor o seu percurso profissional. No final da reunião, o empresário perguntou-lhe: “O que é que eu posso fazer por si?”. Foi nesse momento que Joana lhe lançou o desafio de fazer um podcast. “Ele arregalou os olhos, mas logo pensou um pouco e ficou em silêncio”, conta Joana Beleza. “Saí dali toda a contente, a pensar: ‘isto vai acontecer, isto vai acontecer…’”

Francisco Pinto Balsemão acabou por aceitar a proposta. Este desafio, lançado por Joana Beleza, deu origem ao primeiro projeto que desenvolveram em conjunto, o podcast “Deixar o Mundo Melhor”. Um podcast de 50 episódios, em que Pinto Balsemão entrevista 49 personalidades portuguesas e da lusofonia. No último episódio, que saiu quando o Expresso celebrou 50 anos, inverteram-se os papéis, e foi a vez de ser Francisco Pinto Balsemão o entrevistado.

Um homem fascinado pela tecnologia e “sempre muito informado sobre as novidades relacionadas com os média”, em 2024, aceitou um novo desafio de Joana Beleza e juntos fizeram o podcast “A Próxima Vaga”, com 12 episódios em que se debateram questões relacionadas com tecnologia e Inteligência Artificial.

Quando esse projeto acabou, iniciaram logo outro, em que ‘clonaram’ a voz do empresário de forma a transformar o livro que ele escreveu em 2021, “Memórias”, num podcast.

E ficaram ainda ideias para o futuro. Numa chamada telefónica feita em abril, Joana Beleza falou-lhe da ideia de um novo projeto: “falei-lhe da hipótese de podermos juntar, num debate entre humanos, um sistema de Inteligência Artificial que pudesse gravar, registar e entender uma conversa em tempo real e depois intervir também nesse debate”, explica a jornalista. “Hoje [quarta-feira], às 09h00 da manhã, estava marcado gravarmos o episódio trailer e o primeiro episódio. Decidimos manter esta gravação, porque tenho a certeza que era o que ele mais quereria.”

Joana Beleza considera que Francisco Balsemão foi a pessoa que mais lhe ensinou sobre jornalismo. “Ele ensinou-me que não devemos ter medo, e que devemos tentar sempre compreender profundamente o que é que se está a passar, para onde é que a sociedade está a evoluir, e que o jornalismo só vai sobreviver se nós continuarmos atentos e continuarmos a fazer jornalismo de acordo com os códigos de ética e deontologia, mas sempre adaptados às formas de consumo das pessoas”, declarou.

Decretado luto nacional de dois dias

O Conselho de Ministros aprovou o decreto de luto nacional de dois dias, a cumprir quarta e quinta-feira. O velório decorreu no Mosteiro dos Jerónimos, entre as 18h30 e as 22h00 de quarta-feira. A missa será esta quinta-feira (23), às 13h00, no mesmo local.

Atualmente Francisco Pinto Balsemão era casado com Mercedes Presas Balsemão. Tinha cinco filhos, 14 netos e um bisneto. Os filhos dirigiram-lhe ontem uma carta através do site do “Expresso”. 

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